ADELINO VEIGA
( Portugal )
Adelino Veiga nasceu em plena baixa de Coimbra, a 13 de Outubro de 1848, numa modesta casa da rua das Solas, o n.º. 19 (agora com o seu nome, rua Adelino Veiga).
Oriundo de família humilde, Adelino Veiga, era filho de Maximiano Bento da Veiga, natural da freguesia de Castelo Viegas, e de Maria das Dores, natural de Santa Justa, freguesia de Coimbra...
Cedo aprendeu com o pai a arte de barbeiro, consertador de chapéus de chuva, latoeiro de amarelos, chapeleiro e construtor de redes de arame, ajudando deste modo a subsistência da família.
Mais tarde residindo somente com a mãe e irmã Rosália Veiga (teve outro irmão - Maximiano Veiga) instalará a sua própria oficina de reparação de chapéus na Rua Nova da Rainha, actual Rua da Sota, onde está instalada a Agência do Banco de Portugal.
Devido a dificuldades económicas, Adelino Veiga, não teve um grande percurso nos seus estudos. Não chegou a concluir a instrução primária, o que sempre lamentou, mas a vontade de saber, a capacidade de destrinçar no seu explorado meio a realidade dos seus desejos, a consciência dos direitos de quem trabalha, enfim uma profunda sensibilidade de sentir e amar, tornaram-no num autodidacta. Testemunhos há que o encontram desde a tenra idade dos 15 anos, a versejar com facilidade e espontaneidade no "Café da Alexandrina", ao cimo da Praça Velha, hoje Praça do Comércio.
O operário-poeta não descurou, porém, a sua formação intelectual nem esqueceu a verdade da sua origem e as dificuldades que enfrentou, relacionando o seu passado e a sua vivência difícil, com a vida de problemas com que os operários se defrontavam ...
Sobre Adelino Veiga, poeta humilde, escreveu o escritor Campos de Figueiredo "nunca vi o seu nome nos compêndios escolares nem qualquer referência na história da nossa literatura onde figuram versejadores cuja obra nada tem a ver com a poesia. E Adelino Veiga bem merecia tornar-se conhecido pela sua qualidade de poeta que na realidade foi. Embora poeta menor, a verdade é que este operário de Coimbra viveu como poeta e deixou uma obra onde a poesia existe. Nem grande nem pequena: apenas poesia".
Adelino Veiga afirmou a sua extraordinária personalidade em vários campos da actividade cultural, a saber: na poesia, na oratória, no jornalismo, no associativismo, no teatro e no combate por reivindicações sociais.
Biografia original em: (Do Livro "VIDA E OBRA DE ADELINO VEIGA – POETA-OPERÁRIO CONIMBRICENSE, António Gonçalves, GAAC – Coimbra, 1993)
LIVRO DOS POEMAS. LIVRO DOS SONETOS; LIVRO DO CORPO; LIVRO DOS DESAFOROS; LIVRO DAS CORTESÃS; LIVRO DOS BICHOS. Org. Sergio Faraco. Porto Alegre: L.P. & M., 2009. 624 p. ISBN 978-85-254-1839-1839-5 Ex. bibl. Antonio Miranda
ÚLTIMO DEGRAU
Ao transpor os umbrais do teu prostíbulo,
busquei a embriaguez do esquecimento;
deixei lá fora a dor e o sentimento,
pisando este degrau como patíbulo.
Dá-me a cruz de teus braços, oh! ... perdida!...
O amor te enlameou e envileceu...
Não és, não és, mulher, mais vil do que eu,
Naná!... Perdi a vida, dá-me a vida!...
E quando um dia alguém te perguntar
como é que pudeste ainda amar,
mulher, que sempre o amor vendido tens,
disse-lhe: — Era um perdido, um desgraçado;
dei-lhe o meu coração no vil mercado...
Pobre imundície que se atira aos cães!...
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Página publicada em fevereiro de 2023
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